A educação a distância está modificando todas as formas de ensino e aprendizagem, inclusive as presenciais, que utilizarão cada vez mais metodologias semi-presenciais, flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos, as mídias, as linguagens e os processos. EAD tem significados muito variados, que respondem a concepções e necessidades distintas.
Podemos avançar muito na personalização das propostas, mais abertas, com forte aprendizagem colaborativa, em redes flexíveis e respeito ao caminho de cada um. Na EAD o aluno poderia ter seu orientador, como acontece na pós-graduação. Esse orientador seria o principal interlocutor responsável pelo percurso do aluno, com ele definiria as disciplinas mais adequadas, as atividades mais pertinentes, os projetos mais relevantes. Teremos cursos mais síncronos e outros mais assíncronos, alguns com muita interação e outros com roteiros predeterminados, uns com mais momentos presenciais enquanto que outros acontecem na WEB. Essa flexibilidade de processos e modelos é fundamental para avançar mais, para adequar-nos às inúmeras possibilidades e necessidades de formação contínua de todos.
Diante da dificuldade muitos alunos em adaptar-se ao processo de aprendizagem a distância, vale a pena pensar em propostas que implantem a metodologia da EAD de forma mais progressiva. Cursos a distância com alunos com maiores dificuldades (em média) de autonomia – ex: EJA, cursos técnicos, tecnológicos, graduação de cursos com alunos com pouca fluência de leitura, escrita e pouca independência pessoal – poderiam ter um processo de entrada mais suave na EAD. Começar com uma ambientação tecno-pedagógica para a EAD mais forte, feita presencialmente em parte, em laboratórios, com bastante mediação tutorial.
O primeiro ano desses cursos teria uma carga horária presencial maior do que a habitual, haveria mais encontros presenciais, mais tutoria local, mais aulas ao vivo junto com as demais atividades online, só que em quantidade menor, nesse primeiro ano.
Com esse ano de transição entre o modelo presencial e o a distância, o aluno estaria melhor preparado para enfrentar os desafios de caminhar para uma maior autonomia, para poder gerenciar melhor o seu tempo, para trabalhar mais virtualmente. Assim, a partir do segundo ano, aumentaria a virtualização do curso, com menos encontros e tutoria presenciais e mais orientação e atividades pela WEB.
No primeiro ano, as aulas seriam mais informativas, ao vivo ou por videoaulas fáceis, com histórias, representações, entrevistas. As atividades poderiam ser feitas em pequenos grupos presencial e virtualmente, para aprender juntos, dar-se apoio, manter vínculos, não desistir. Progressivamente haveria mais leituras, atividades mais complexas individuais e em grupo, pela WEB.
Cursos de formação de professores, que hoje utilizam mais a WEB, poderiam incorporar videoaulas ou teleaulas interessantes e motivadoras, como elementos enriquecedores da experiência de aprender online. Os cursos que se baseiam em textos na web, mesmo que bem produzidos e em tom dialógico, exigem um salto cultural grande demais, num primeiro momento, para alunos vindo de escolas pouco exigentes e que não desenvolveram o hábito da pesquisa contínua e produção autônoma.
É interessante a organização de aulas produzidas de forma mais inteligente e econômica, principalmente na formação de professores. As universidades públicas, através da gestão da UAB – Universidade Aberta do Brasil – poderiam criar materiais, principalmente os audiovisuais, de forma integrada, gastando menos recursos na produção e concentrado-os mais na tutoria e na adaptação à realidade regional. Universidades com mais competência reconhecida em algumas áreas fariam essas produções de videoaulas e do material de apoio básico (livros…) que serviriam de base para os cursos semelhantes de outras instituições e que poderiam ter algumas adaptações regionais, aproveitando a maior parte da produção já feita.
Em EAD não precisamos todos fazer tudo. A especialização pode baratear enormemente os custos, sem diminuir a qualidade. Esses materiais poderiam estar disponíveis no portal do Ministério para todas as instituições públicas e privadas. O dinheiro de educação é pago com os nossos impostos e se um material pode ser útil para muitos, por que não disponibilizá-lo? A educação a distância não é só conteúdo pronto, mas conhecimento construído a partir de leituras, discussões, vivências, práticas, orientações, atividades. Disponibilizaríamos os materiais básicos e cada instituição os adaptaria ao seu projeto pedagógico. Por que todos temos que fazer os mesmos materiais sempre de forma isolada, principalmente na formação de professores?
Nos cursos presenciais poderíamos também flexibilizar a relação presencial-digital de forma progressiva. No primeiro ano, as atividades aconteceriam mais na sala de aula. Haveria uma ênfase maior na aprendizagem do uso das tecnologias digitais feito no laboratório até o aluno ter o domínio do virtual e poder fazê-lo a distância. Algumas disciplinas teriam no máximo, nesse primeiro ano, vinte por cento de atividades a distância. Do segundo ano em diante, a porcentagem de EAD poderia aumentar até chegar a metade em sala de aula e metade a distância (sem ultrapassar a carga total de vinte por cento a distância, enquanto não mudar a legislação vigente).
Nos modelos WEB é importante utilizar mais a videoaula, a teleaula, a web-conferência e o uso também de tecnologias móveis.
Nos modelos teleaula convém ter menos aulas expositivas e melhorar a produção, combinada com atividades significativas em sala e na WEB. Nestes modelos precisamos aproveitar melhor os recursos da WEB e as tecnologias móveis.
Caminhamos rapidamente para poder aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e de muitas formas diferentes. Aprender quando for conveniente, com ou sem momentos presenciais, mas sempre com a possibilidade de estarmos juntos, de aprender colaborativamente e de construir roteiros pessoais. Com a riqueza de mídias, tecnologias e linguagens, podemos integrar conteúdo, interação, produção tanto individual como grupal do modo mais conveniente para cada aluno e para todos os participantes.
José Manuel Moran *
* Diretor do Centro de Educação a Distância da Universidade Unianhanguera Uniderp. Professor de Comunicação na USP (aposentado) e especialista em inovações na educação presencial e a distância.
terça-feira, 6 de março de 2012
Propostas para melhorar nossa educação a distância
Postado por
Prof. Silvio Ronney e Sup. Carla Agualuza
às
terça-feira, março 06, 2012
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Os cenários para a educação brasileira
O Brasil tem extraordinário potencial dentro de um mundo competitivo e, segundo estudos o Fundo Monetário Internacional já em 2011 seremos a sétima economia do mundo. Não será a primeira vez que ocuparemos essa invejável posição, pois nos meados dos anos noventa (1994 e 1995) atingimos esse patamar. Depois caímos até chegar à décima – segunda, em 2002. O mesmo órgão afirma que deveremos manter esse patamar até, pelo menos, 2015 quando poderemos avançar mais ou recuar.
Ficamos somente atrás dos Estados Unidos da América, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido. Como estamos no patamar dos países desenvolvidos cresce o prestígio nas negociações internacionais. Em três décadas o país deve avançar cinco posições na lista das maiores economias. Atualmente o FMI calcula que será de US$ 2,19 trilhões o tamanho do nosso PIB.
Mas o quadro não é tão auspicioso se analisarmos pela ótica do desenvolvimento humano. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostrou que, dentre 169 países, estamos em 73o lugar. A principal causa dessa fraca posição é que a escolaridade “trava” o desenvolvimento. A esperança de vida subiu para 72,9 anos, mas a média de anos de escolaridade é pequena (7,2 anos).
Temos hoje cerca de 220.000 escolas, entre públicas (185.000) e privadas (35.000) onde estudam sessenta milhões de alunos. Atingimos, na educação básica, uma universalização e os mais de 5.500 municípios dispõem de rede de estabelecimentos de ensino. Em termos de escolas há muito mais públicas do que particulares. Temos 97,6% das crianças na escola, o que é positivo,
Já no ensino superior possuímos 2.500 instituições, com uma forte predominância (89%) de unidades mantidas pela livre iniciativa. O número de alunos é reduzido, se observarmos as necessidades de graduados para alavancar o progresso e consolidar a democracia. Não temos conseguido erradicar o analfabetismo, que atinge a 14,1 milhões de pessoas. Computando-se os analfabetos digitais esse número se eleva substancialmente. Nas avaliações nacionais ou internacionais os resultados são ruins.
Estudos em todo o mundo indicam que um dos diferenciais para explicar o desempenho dos estudantes é o que hoje se chama “capital cultural. É algo farto para os ricos, cujos filhos vão a museus e tem bibliotecas em casa. Escolas públicas que se destacam exibem, além de foco na leitura, atividades extracurriculares voltados às artes, ou seja, oferecem chance de expressão e de encantamento com o belo. O baixo capital cultural é uma das explicações para o fato de estarmos tão mal na questão da educação.
Um fato que merece comentário é que a maioria das bibliotecas públicas municipais brasileiras não abre nos finais de semana, não oferece serviços para portadores de deficiência e também não conta com qualquer atividade de extensão, como oficinas e rodas de leitura. Em relação ao acesso à internet das 64% que têm computador, só 25% oferecem conexão com os usuários.
Investe-se pouco na educação, com um gasto de 5% do Produto Interno Bruto. Há promessas de elevar para 7% em 2011 e chegar a 10% em 2020. Mas, além de ter recursos suficientes é preciso existir um processo de bom aproveitamento das verbas públicas. Gasta-se muito com a educação superior (especialmente a mantida pela União), em detrimento da educação infantil, fundamental e média.
Um trabalho realizado pelo movimento “Todos pela Educação” destacou que existem sete principais desafios a serem enfrentados. São eles: Inclusão, até o ano de 2016, de todas as crianças e adolescentes de 4 a 17 anos na escola; universalização do atendimento da demanda por creche, nos próximos dez anos; superação do analfabetismo, especialmente entre a população com mais de 15 anos de idade; promoção da aprendizagem ao longo da vida para toda criança, adolescente, jovem e adulto garantia de que, até o ano de 2014, todas as crianças brasileiras com até os 8 anos de idade estejam alfabetizadas; estabelecimento de padrões mínimos de qualidade para todas as escolas brasileiras, reduzindo os níveis de desigualdade na Educação e ampliação das matrículas no ensino profissionalizante e superior.
As metas são atingíveis desde que existam determinação e comprometimento de longo prazo. O Brasil peca por não cumprir os planos plurianuais e transforma a educação em projeto de governo e não de Estado. No início da década de 2000 o Congresso Nacional aprovou o Plano Nacional de Educação para o período de 2001 a 2010. O então presidente da República o sancionou, transformando em lei. Apesar de ser muito detalhista, contendo mais de 300 metas, somente um terço chegou a ser cumprido.
O governo federal esqueceu totalmente a lei e resolveu criar o Plano de Desenvolvimento da Educação (conhecido como o PAC da Educação), através de diversos instrumentos frágeis e que foram sendo esquecidos ou parcialmente cumpridos, muitos deles com objetivos duvidosos.
Objetivando definir novas bases para o PNE de 2011 a 2020 foram mobilizadas diversas frentes, inicialmente nas cidades, com as Conferências Municipais de Educação, posteriormente nas unidades da Federação, através das Conferências Estaduais e no primeiro semestre desse ano, com a Conferência Nacional de Educação. Foram criados inúmeros grupos de trabalho e elaborado um documento final, com seis eixos temáticos a serem considerados no projeto de lei que será analisado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
A proposta, contudo, não foi encaminhada pelo Ministério da Educação ao presidente da República para elaboração de mensagem ao Legislativo. Em termos práticos isso significa que estaremos um vácuo legislativo sem a vigência do atual e a existência de um novo Plano Nacional de Educação. Com base nessa lacuna a nova Presidente irá definir, a seu critério, as linhas de ação que irão nortear as medidas no âmbito do governo federal. O mesmo ocorrerá pelos governadores nos Estados e no Distrito Federal e pelos prefeitos nos Municípios.
Os resultados podem ser desastrosos eis que concentrar-se-á tudo no Executivo, sem a participação, sequer, dos parlamentares que tem o dever de representar a sociedade brasileira nas grandes questões nacionais.
João Roberto Moreira Alves (*)
Eduardo Desiderati Alves (**)
(*) Presidente do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação
(**) Diretor do Grupo BESF – Brasil Educação Sem Fronteiras
Ficamos somente atrás dos Estados Unidos da América, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido. Como estamos no patamar dos países desenvolvidos cresce o prestígio nas negociações internacionais. Em três décadas o país deve avançar cinco posições na lista das maiores economias. Atualmente o FMI calcula que será de US$ 2,19 trilhões o tamanho do nosso PIB.
Mas o quadro não é tão auspicioso se analisarmos pela ótica do desenvolvimento humano. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostrou que, dentre 169 países, estamos em 73o lugar. A principal causa dessa fraca posição é que a escolaridade “trava” o desenvolvimento. A esperança de vida subiu para 72,9 anos, mas a média de anos de escolaridade é pequena (7,2 anos).
Temos hoje cerca de 220.000 escolas, entre públicas (185.000) e privadas (35.000) onde estudam sessenta milhões de alunos. Atingimos, na educação básica, uma universalização e os mais de 5.500 municípios dispõem de rede de estabelecimentos de ensino. Em termos de escolas há muito mais públicas do que particulares. Temos 97,6% das crianças na escola, o que é positivo,
Já no ensino superior possuímos 2.500 instituições, com uma forte predominância (89%) de unidades mantidas pela livre iniciativa. O número de alunos é reduzido, se observarmos as necessidades de graduados para alavancar o progresso e consolidar a democracia. Não temos conseguido erradicar o analfabetismo, que atinge a 14,1 milhões de pessoas. Computando-se os analfabetos digitais esse número se eleva substancialmente. Nas avaliações nacionais ou internacionais os resultados são ruins.
Estudos em todo o mundo indicam que um dos diferenciais para explicar o desempenho dos estudantes é o que hoje se chama “capital cultural. É algo farto para os ricos, cujos filhos vão a museus e tem bibliotecas em casa. Escolas públicas que se destacam exibem, além de foco na leitura, atividades extracurriculares voltados às artes, ou seja, oferecem chance de expressão e de encantamento com o belo. O baixo capital cultural é uma das explicações para o fato de estarmos tão mal na questão da educação.
Um fato que merece comentário é que a maioria das bibliotecas públicas municipais brasileiras não abre nos finais de semana, não oferece serviços para portadores de deficiência e também não conta com qualquer atividade de extensão, como oficinas e rodas de leitura. Em relação ao acesso à internet das 64% que têm computador, só 25% oferecem conexão com os usuários.
Investe-se pouco na educação, com um gasto de 5% do Produto Interno Bruto. Há promessas de elevar para 7% em 2011 e chegar a 10% em 2020. Mas, além de ter recursos suficientes é preciso existir um processo de bom aproveitamento das verbas públicas. Gasta-se muito com a educação superior (especialmente a mantida pela União), em detrimento da educação infantil, fundamental e média.
Um trabalho realizado pelo movimento “Todos pela Educação” destacou que existem sete principais desafios a serem enfrentados. São eles: Inclusão, até o ano de 2016, de todas as crianças e adolescentes de 4 a 17 anos na escola; universalização do atendimento da demanda por creche, nos próximos dez anos; superação do analfabetismo, especialmente entre a população com mais de 15 anos de idade; promoção da aprendizagem ao longo da vida para toda criança, adolescente, jovem e adulto garantia de que, até o ano de 2014, todas as crianças brasileiras com até os 8 anos de idade estejam alfabetizadas; estabelecimento de padrões mínimos de qualidade para todas as escolas brasileiras, reduzindo os níveis de desigualdade na Educação e ampliação das matrículas no ensino profissionalizante e superior.
As metas são atingíveis desde que existam determinação e comprometimento de longo prazo. O Brasil peca por não cumprir os planos plurianuais e transforma a educação em projeto de governo e não de Estado. No início da década de 2000 o Congresso Nacional aprovou o Plano Nacional de Educação para o período de 2001 a 2010. O então presidente da República o sancionou, transformando em lei. Apesar de ser muito detalhista, contendo mais de 300 metas, somente um terço chegou a ser cumprido.
O governo federal esqueceu totalmente a lei e resolveu criar o Plano de Desenvolvimento da Educação (conhecido como o PAC da Educação), através de diversos instrumentos frágeis e que foram sendo esquecidos ou parcialmente cumpridos, muitos deles com objetivos duvidosos.
Objetivando definir novas bases para o PNE de 2011 a 2020 foram mobilizadas diversas frentes, inicialmente nas cidades, com as Conferências Municipais de Educação, posteriormente nas unidades da Federação, através das Conferências Estaduais e no primeiro semestre desse ano, com a Conferência Nacional de Educação. Foram criados inúmeros grupos de trabalho e elaborado um documento final, com seis eixos temáticos a serem considerados no projeto de lei que será analisado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
A proposta, contudo, não foi encaminhada pelo Ministério da Educação ao presidente da República para elaboração de mensagem ao Legislativo. Em termos práticos isso significa que estaremos um vácuo legislativo sem a vigência do atual e a existência de um novo Plano Nacional de Educação. Com base nessa lacuna a nova Presidente irá definir, a seu critério, as linhas de ação que irão nortear as medidas no âmbito do governo federal. O mesmo ocorrerá pelos governadores nos Estados e no Distrito Federal e pelos prefeitos nos Municípios.
Os resultados podem ser desastrosos eis que concentrar-se-á tudo no Executivo, sem a participação, sequer, dos parlamentares que tem o dever de representar a sociedade brasileira nas grandes questões nacionais.
João Roberto Moreira Alves (*)
Eduardo Desiderati Alves (**)
(*) Presidente do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação
(**) Diretor do Grupo BESF – Brasil Educação Sem Fronteiras
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Prof. Silvio Ronney e Sup. Carla Agualuza
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terça-feira, março 06, 2012
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